sexta-feira, maio 14, 2021

Dádiva

 

A concisão do verso

rabisca com ternura

esconde-se repetida

na vida que permeia

a folha em branco

e silencia

unge o poema


Solange Firmino



No livro "Diante das marés".


Para adquirir este livro a R$ 29,90, acesse:



domingo, maio 09, 2021

A memória do mar-deserto 


Foi num tempo anterior a essa estação 
que o sertão se fez mar 
desordenou o que era feito para morrer 
os excluídos veneraram as ondas 
amaram as ressacas 
ajoelharam-se embevecidos diante das marés 
catando pela primeira vez as ostras 
agradeceram aos ventos 
antes que viesse mais uma catástrofe 
da eternidade só sabiam a palavra

Solange Firmino


No livro "Diante das marés", Caravana Grupo Editorial.

Para adquirir este livro a R$ 29,90, acesse o link acima.


sábado, maio 08, 2021

Manifesto sincero


No livro "Diante das marés".
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quarta-feira, maio 05, 2021

Presença

Leonid Afremov


Então fiquei assim: nua.
Não que eu tenha tirado a roupa, mas o escudo.
Tua voz espalhou pelo meu corpo naufragado o espanto.
Passiva e equilibrada, 
olhei-me de novo no espelho partido.
Estava oco. 
Sem imagem refletida. 
Nem a velha imagem cubista. Nada.

Naquela noite inventei um amor no meu sonho.
Um amor de frases que li e ouvi, mas nada era meu.
Então abri a concha para ouvir tua voz, 
que vinha de um tempo longe,
de um lugar que não existe, 
entre ferrugem e musgo.

Tua voz trouxe uma canção que falava de amor.
Entre porto e naufrágio, tu procuravas o norte,
embalado pelo (en)canto da tua sereia.
E tu eras também sereia nos meus ouvidos.
Oferecias um ritmo sincero, que entregava o CÉU
e a esperança num canto de amor.

A melodia me tomou para um horizonte que chorava
a solidão nas frestas.
Queria também te resgatar,
mas o manto das estrelas me feria como punhal.
Não me joguei no teu abismo,
mas passeei no teu sonho.
E acordei comovida.

Solange Firmino


* Para a Céu, do blogue Ausente do Céu.

Ser


 "sou mar, inundo-me, abissal
mergulho sem fôlego
no assombro do que não sou"

*Trecho do poema 'Ser', no livro "Diante das marés".

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domingo, maio 02, 2021

Sinestesia



Dissimulo até ser despida pelo desassombro
adio o destino que me sufoca para ontem
tateio a lua a iluminar meu canto
a chuva que toca o chão
a solidão do poente

ofereço minha língua antes do beijo
entre as névoas que alagam meus passos
desencontro o fundo do espelho
sinto o vento que me acaricia
no compasso da borboleta

percebo o toque que cura o enfermo
ouço o silêncio que é a síntese
do perfume da noite
mar lambendo a areia
céu que embala a asa


Solange Firmino


* No livro Diante das marés.
* Para adquirir este livro a R$ 29,90, acesse o site da Caravana Grupo Editorial.


quinta-feira, abril 29, 2021

Diante das marés - meu quinto livro



 

PRÉ-LANÇAMENTO


"São mares turbulentos estes que atravessamos, entre os despojos de antigas certezas, ainda que precárias. Mas é justamente nesses momentos que a poesia se renova, tal como em Diante das marés, de Solange Firmino. Aqui a poeta não se deixa levar pelo canto das sereias – uma falsa inspiração – perdendo-se da técnica, do apanhar em meio à bruma as palavras certas, as que são essenciais ao seu ofício. Não. Ao abrir este livro o leitor estará diante de abismos e fendas para, logo em seguida, ser erguido ao dorso das ondas e experimentar a inigualável sensação de vertigem que só os grandes poetas podem ao mundo oferecer."

Leonardo Costaneto - Editor



Sobre a autora

Solange Firmino nasceu e vive no Rio de Janeiro. É graduada em Português e Literatura pela UERJ, tendo atuado como professora. Em 2016, venceu o Prêmio Literário da Fundação Cultural do Estado do Pará. São livros seus Fragmentos da insônia (2016), Alguns haicais e mínimos poemas (2016), Das estações (2017); e Geometria do abismo (2017).
 

Para adquirir este livro acesse:

terça-feira, abril 20, 2021

Reflexo condicionado




Espelho, meu avesso
sei que pelas frestas
você me observa
invade
devora
covarde_mente

conhece meu essencial
minha desventura
consegue me olhar
olho no olho

Solange Firmino

segunda-feira, abril 12, 2021

Das coisas que não se repetem



Toda mulher real eu sou
a que quer viver mais e não pode
mesmo que os dias sejam sempre iguais

sou toda filha, irmã, Maria, Zulmira
toda a dor dos nomes
que traduzem todas as feridas
e toda a satisfação
sou cada mãe que sofre
todo o sol adormecido
nos olhos dos filhos
das cores irreprisáveis
que se foram para sempre
que se foram para sempre

mas há céus que não se repetem

Solange Firmino

Para
Virgínia Do Carmo
pelo seu livro maravilhoso, "Zulmira morreu", da
POÉTICA GRUPO EDITORIAL
.

quinta-feira, abril 08, 2021

Céu


Céu, quero teu infinito

para voar entre as passagens secretas

dos deuses que vagueiam na tua essência

sem direção nem tempo

silenciosos e insones


Anseio navegar pelo noturno e suspenso

oceano de planetas sem luz própria

anoiteço querendo teu colo escuro e silencioso

durmo esperando teu azul ou nuvem

qualquer claridade que me traga

um novo dia para viver


quero escalar o infinito insondável

desvendar o labirinto ilimitado

que traz meu dia e minha noite


sol e lua

estrela e nuvem

chuva e arco-íris

luz e escuridão

gravitam e habitam no enigma

do espaço vazio


deliro na imensidão

que me convida ao voo

sou asa no precipício do céu


Solange Firmino

quinta-feira, março 25, 2021

Outono

 


Estou presa aos abismos

exaurida na vertigem dos dias
tenho fascínio pelas alturas
mesmo que sejam invertidas

esses degraus perversos
levam-me às noites insones
e nítidas

mas é OUTONO
vou olhar o poente
e anotar no meu bloco
os versos que me lembrem
dos amarelos de Van Gogh
que explodem em GIRASSÓIS.

Solange Firmino



📸 Girassol do meu jardim.

sexta-feira, março 19, 2021

Véspera

 


Por ora,
é preciso estar atento ao tempo,
que tudo devora,
como a solidão que corrói o indivíduo.

Na escuridão, a luz frágil flui:
sol dourado que sobrevém ao sono.

Quando eu acordar,
no alvoroço do café,
já será outra estação.

Solange Firmino


📸 Último dia de sol de verão em 19.03.202, na minha janela.


Amanhã começa mais um outono no Hemisfério sul. Estou muito feliz em
presenciar mais um retorno da minha estação preferida. 🍂

sexta-feira, março 12, 2021

Odisseia II



sexta-feira, fevereiro 19, 2021

Ritual

 



Sem etiqueta nenhuma 
a abelha 
suga a flor entreaberta  
e se apossa do pólen 
de forma quase erótica 
como a língua 
lambendo o poema

Solange Firmino 

🐝

Prêmio Literário Afeigraf 2020 - Editora Scortecci

sexta-feira, fevereiro 05, 2021

Aniversário

 


Eu me deixo acontecer no agora,
com a plenitude do abstrato futuro.
(...)
Escuto serenamente o rumor da vida.
Indecisa,
aceito a dádiva que a linguagem me sopra
e escrevo o poema;
soletro de cor as palavras
da infância.

Solange Firmino

terça-feira, janeiro 26, 2021

Prece (Nos tempos da Pandemia)

 


🛐 

Eu medito em outra língua
olho a ampulheta do tempo
e um mantra de ideias
me povoa nesse outono
mas tenho de enterrar meus mortos

Olho pela janela e vejo
a luz do sol entrar
agora tenho de jejuar
e pedir poemas futuros
para velar os que partiram

Solange Firmino


📸 Troféu do 16º Concurso Literário Mario Quintana - 
Categoria nacional - SINTRAJUFE - RS

segunda-feira, janeiro 18, 2021

Poesia no Twitter 2012


Quando o Twitter ainda tinha 140 caracteres e fazia concursos de poesia...
Este foi o ano III do prêmio, em 2012. Também participei do primeiro, em 2010.
Faziam um livrinho muito bonitinho chamado "Os cem melhores poemas do TOC140, poesia no Twitter".  

sexta-feira, janeiro 08, 2021

Relevo do avesso

 


Eu fico à margem,

na corda bamba,
enquanto o abismo recluso
estremece,
explode feito vulcão
e delineia a polêmica paisagem
sem curva da noite insone.

Quanto mais me assemelho
ao desassossego,
mais me desequilibro,
a ponto de cair no abismo.

Solange Firmino


Foto: México - Pirâmide de Tepanapa –  A Grande Pirâmide de Cholula mede 405 metros de cada lado e cobre uma área de aproximadamente 186 mil metros quadrados. 
Tem 66 metros de altura, quase a mesma altura da Pirâmide do Sol, que fica em Teotihuacan, também no México.

sexta-feira, dezembro 25, 2020

Confidência

 


Sou outra ao viver

eu que não me pertenço
me crio e me multiplico
entre muros e passos
na virgindade perpétua dos dias
nunca houve uma igual a mim
como hoje

Solange Firmino

quarta-feira, dezembro 16, 2020

Depois da chuva


 “Porque eis que passou o inverno;

a CHUVA cessou, e se foi.
Aparecem as FLORES na terra,
o tempo de cantar chega,
e a voz da rola ouve-se em nossa terra.
A figueira já deu os seus figos verdes,
e as vides em flor exalam o seu aroma;
levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem.”

(Cânticos, 2:11-13, ACF)


*Rosa do meu jardim

quinta-feira, dezembro 10, 2020

Cubista



Meus labirintos se bifurcam 

em mosaicos internos
passagens secretas que procuro
sem saber onde me perdi
como entrelinhas em um texto
cato cacos e me refaço 
em palavras-átomos diárias: 
colo e abandono
muro e ponte
rabisco e tatuagem
prece e ceticismo
anarquia e estoicismo

confusa
mas real

Solange Firmino

terça-feira, dezembro 01, 2020

Das estações


Fala em segredo para mim seu nome.
Em que sábado você mora?
Nas aspas do poema ou em qualquer noite de lua?
Em dia de sol com sombra
ou no inverno inteiro à espera
da primavera?

Aquelas flores caídas do mês de setembro
são metáforas da vida breve.
Eu me refugio no fruto maduro.
Sou milenar em cada gesto
e me rasgo em cada palavra que brota do céu
descoberto, infinito, imenso.

Então o fruto de outono
também acaba?

Solange Firmino 


O poeta Marcelo de Brito Steil fez um poema sobre esse poema, que ponho abaixo:


terça-feira, novembro 24, 2020

Ferreira Gullar na ABL

 


24.11.2010 (10 anos atrás!) Ferreira Gullar autografando 'meu livro' dele “Em alguma parte alguma”.

A Secretaria Municipal de Educação premiou naquele dia, alunos e professores do projeto Poesia na Escola, do Programa "Rio, Uma Cidade de Leitores".

A cerimônia foi na Academia Brasileira de Letras com a presença dos poetas Ferreira Gullar e Ivan Junqueira. Gullar recebeu uma homenagem lítero-musical emocionante.

O projeto incluiu a edição de duas coletâneas com os poemas
selecionados pela SME: uma com poemas de alunos e outra com poemas de funcionários da rede e professores (2 poemas meus).

sábado, novembro 21, 2020

Vídeos de novembro


Haiku a Crono

 

El tiempo tiene miedo

de también ser tragado

por eso devora


Solange Firmino


Tradução e leitura: Cilene Firmino Savioli






(Re)verso


Possuída de desordem
escrevi os silêncios
que resgatei da memória.
Por um instante,
acreditei ser eterna.
Acordei fazendo versos.
Profanei metáforas.
Queria semear sílabas perfeitas.
Inesperadamente,
sangrei o inverossímil poema,
decepei minhas rimas preferidas.
Para desespero
dos sinos que dobravam.


Solange Firmino

Interpretação: Fernando Grecco - cantor lírico do Teatro Municipal de São Paulo desde 1992 e diretor da Cia. Ópera do Mendigo de teatro e música (SP): 


https://www.youtube.com/watch?v=GqTDyKtgFZc







A série "Um Poema, Uma Canção", criada durante a quarentena (Covid-19) por Fernando Grecco e José Palomares (Cia. Ópera do Mendigo / Coral Paulistano /Teatro Municipal de São Paulo), associa sempre um poema e uma canção em um vídeo. 

O meu poema “Esfinge” está associado a um trecho da semi-ópera O Rei Arthur, de Henry Purcell (barroco inglês). Aqui, duas alucinações em forma de sereias, criadas pelo “mago do mal”, tentam desviar Arthur do caminho, em sua tentativa de resgatar sua amada Guinevere das mãos do rei inimigo.

ESFINGE

Decifra meu enigma
e toda a verdade,
toda a essência
por trás do verso.

Segue pela trilha do meu corpo
e revela a paisagem escondida.
Repousa sem tédio no meu abraço.
Implora pelo princípio e fim
de cada ato.

Descobre o segredo que habita
onde me esquivo,
onde a pergunta é só disfarce,
reverso.

Se me escondo,
é para devorar melhor.


Solange Firmino


https://www.youtube.com/watch?v=1K6wUZtS26k





sábado, novembro 14, 2020

Insônia

 


A solidão do Céu não cabe nesse verso.

A noite escura sem lua
permeia tudo quanto é distante e solitário.

O céu mudo sopra as palavras que recolho em sua queda:
cacos abstratos dos quais invento minha própria noite.

Invoco, em meio à neblina,        
um canto manso que traduza meu existir em expansão.
O ventre do universo se expande no deserto da noite.

Contraio-me na luz inversa que me recompõe ao dia
para soletrar mais tarde meu cansaço.
Para onde vão os versos não escritos?

Solange Firmino 

sexta-feira, outubro 30, 2020

(Re)verso

 


Possuída de desordem,

escrevi os silêncios
que resgatei da memória.
Por um instante,
acreditei ser eterna.

Acordei fazendo versos.
Profanei metáforas.
Queria semear sílabas perfeitas.
Inesperadamente,
sangrei o inverossímil poema,
decepei minhas rimas preferidas.
Para desespero
dos sinos que dobravam.

Solange Firmino


*Foto: Eu em frente ao Templo de Dendur - Metropolitan Museum of Art - New York

segunda-feira, outubro 12, 2020

Dia da criança

 



Trago dentro de mim

ondas que se quebram
em um mar intranquilo.
Dispo-me,
semente e parto.
Lúcida,
como quem adia o voo.
Não quero ir ao sabor do vento,
adquiro um astrolábio
e parto em busca dos outonos
do mundo.
Não é tempo de morrer.
Protege minha fuga.

Solange Firmino 

terça-feira, outubro 06, 2020

Travessias

 


O tempo atravessa o mundo,
avança pelos detritos,
rasga o espaço e chora no ombro da noite
seu cansaço de insônia.

O tempo atravessa o mistério
das perguntas gastas
e o meu coração que bate fértil e materno.

O tempo atravessa a solidão humana,
tão indizível que nem cabe no verso.
Que é deserta e sem nome, insone e surda

O tempo
Em seu nascer-morrer sem fim nem começo,
atravessa o sol de outono
e o azul e frágil céu dos deuses.

Os deuses atravessam o tempo
e as fronteiras nuas das estrelas.

Ei-los, obscenos,
criando o Homem e o Universo.

Solange Firmino 


*Lua vista da minha janela em 02/10/2020

segunda-feira, setembro 28, 2020

Completude

 



Com medo do precipício
eu brinquei de ser outra.
Mesmo assim, tu me habitaste,
chamaste meu nome.

Lá onde começo e termino meu dia,
a fonte e a sede misturadas,
a onda e a chuva dentro delas me fizeram
descobrir meu solo.

O tempo que não envelhece
coabita comigo.
Assim encontrei a mim mesma.

Solange Firmino

terça-feira, setembro 22, 2020

Primavera

 

Flor do meu jardim

É preciso transgredir a distração da flor em gestação,
tocá-la infinitamente,
sorver-lhe o perfume,
soprar a gota de orvalho pousada em cada cor,
inventar um arco-íris
pelas arestas do vento,
abrir caminhos para a primavera.

A sombra se faz luz,
o inverno se desfolha.
Como se existisse um tempo das estações,
a primavera dá sinais,
despida das névoas,
como se fosse a primeira vez.


Solange Firmino

segunda-feira, setembro 21, 2020

Dia da árvore - 2 árvores, 2 poemas

 

Rua Arthur Bernardes - Catete - RJ

Resisto e sobrevivo
entre o desejo e a fúria,
no caminho novo
de cada dia finito.
Algo me chama no relógio,
chama viva que reclama um novo dia.

Choro, fujo, reclamo,
mas tenho de ressurgir
nos pedaços de tempo
soltos nas cinzas.

Solange Firmino




                                                           Floresta Amazônica, Pará - PA

Aqui o silêncio circunda
as testemunhas verdes
das florestas paraenses

mas podia ser em qualquer lugar
que tivesse árvore

qualquer lugar pode ficar sem paisagem
desde que tenha um ser humano

Solange Firmino


 

sábado, setembro 12, 2020

Alvoroço


Logo serei rochedo nessa hora sempre igual.
Conheço de cor o silêncio nômade,
aprendi a amar meu destino
e soletrar o que procuro.
Carrego nos ombros
o fim e o começo do mundo.
Meu mapa do tesouro
tem a validade do tempo preso à eternidade.
Nunca antecipei o futuro.

Solange Firmino


*Fotografia: Ilha de Paquetá - Rio de Janeiro