A
concisão do verso
rabisca
com ternura
esconde-se
repetida
na vida
que permeia
a folha
em branco
e
silencia
unge o
poema
Solange Firmino
No livro "Diante das marés".
Aqui estão os inícios dos textos da coluna "Mito em Contexto", escritos por mais de 6 anos para o site Blocos online. Também estão alguns poemas dos 7 livros escritos por mim. E também alguns ensaios, haicais e outros textos.
A
concisão do verso
rabisca
com ternura
esconde-se
repetida
na vida
que permeia
a folha
em branco
e
silencia
unge o
poema
Solange Firmino
No livro "Diante das marés".
![]() |
Leonid Afremov |
"São mares turbulentos estes que atravessamos, entre os despojos de antigas certezas, ainda que precárias. Mas é justamente nesses momentos que a poesia se renova, tal como em Diante das marés, de Solange Firmino. Aqui a poeta não se deixa levar pelo canto das sereias – uma falsa inspiração – perdendo-se da técnica, do apanhar em meio à bruma as palavras certas, as que são essenciais ao seu ofício. Não. Ao abrir este livro o leitor estará diante de abismos e fendas para, logo em seguida, ser erguido ao dorso das ondas e experimentar a inigualável sensação de vertigem que só os grandes poetas podem ao mundo oferecer."Leonardo Costaneto - Editor
para voar entre as passagens secretas
dos deuses que vagueiam na tua essência
sem direção nem tempo
silenciosos e insones
Anseio navegar pelo noturno e suspenso
oceano de planetas sem luz própria
anoiteço querendo teu colo escuro e silencioso
durmo esperando teu azul ou nuvem
qualquer claridade que me traga
um novo dia para viver
quero escalar o infinito insondável
desvendar o labirinto ilimitado
que traz meu dia e minha noite
sol e lua
estrela e nuvem
chuva e arco-íris
luz e escuridão
gravitam e habitam no enigma
do espaço vazio
deliro na imensidão
que me convida ao voo
sou asa no precipício do céu
Solange Firmino
Sei que me demoro entre idas e vindas. Sem bússola, cruzo caminhos agitados de ventos fustigantes. Peregrino nas tempestades, naufrago aqui e ali, mas aprendi a fugir do (en)canto da sereia. Busco um porto em ilha intacta de vez em quando, no poente, de norte a sul, como um sábado de outono. Solange Firmino Imagem: Mermaid - Victor Nizovtsev |
Meus labirintos se bifurcam
24.11.2010 (10 anos atrás!) Ferreira Gullar autografando 'meu livro' dele “Em alguma parte alguma”.
Haiku a Crono
El tiempo tiene miedo
de también ser tragado
por eso devora
Solange Firmino
(Re)verso
Possuída de desordem
escrevi os silêncios
que resgatei da memória.
Por um instante,
acreditei ser eterna.
Acordei fazendo versos.
Profanei metáforas.
Queria semear sílabas perfeitas.
Inesperadamente,
sangrei o inverossímil poema,
decepei minhas rimas preferidas.
Para desespero
dos sinos que dobravam.
Solange Firmino
Interpretação: Fernando Grecco - cantor lírico do Teatro Municipal de São Paulo desde 1992 e diretor da Cia. Ópera do Mendigo de teatro e música (SP):
https://www.youtube.com/watch?v=GqTDyKtgFZc
A solidão do Céu não cabe nesse verso.
A noite escura sem lua
Possuída de desordem,
Trago dentro de mim
Solange Firmino
É preciso transgredir a distração da flor em gestação,
tocá-la infinitamente,
sorver-lhe o perfume,
soprar a gota de orvalho pousada em cada cor,
inventar um arco-íris
pelas arestas do vento,
abrir caminhos para a primavera.
A sombra se faz luz,
o inverno se desfolha.
Como se existisse um tempo das estações,
a primavera dá sinais,
despida das névoas,
como se fosse a primeira vez.
Solange Firmino
Floresta Amazônica, Pará - PA