domingo, junho 26, 2022

Refém

 


Não temi o encontro com o tempo 
encarei o silêncio dramático do mundo 
aceitei romper com as tardes enfadonhas 
em tudo o que se repete

os prenúncios me rondam todos os dias 
tentei não perder a delicadeza
mesmo no silêncio agonizante 
dos dias cansados 
um após o outro

Solange Firmino


*Fotografia: Selfie em 25.06.2022

* Poema em homenagem ao livro 
da amiga Graça Pires - "Jogo sensual no chão do peito". 
Fafe: Labirinto, 2020.

domingo, junho 19, 2022

Inverno

 


O vento do outono
abraça a nova estação,
que chega com sua
ordem de recolhimento.

Como em um rito,
novos rumos se fazem
no casulo dos dias
à espera dos ciclos
das estações.

No rastro das névoas,
os sonhos não nascidos
escondem-se.
A vida lateja no
cortejo de ideias submersas.

Palavras extremas
aguardam o movimento
de fuga no vento,
ninho das ideias.

Há um poema intacto
no caminho do tempo
que aguarda o inverno,
mas só renascerei
na primavera.

Solange Firmino


* Fotografia por mim em 18/06/2022, no Museu da República. 
Céu alguns segundos antes de chover.


sexta-feira, junho 17, 2022

Fuga

 


Trago dentro de mim
ondas que se quebram
em um mar intranquilo.
Dispo-me,
semente e parto.
Lúcida,
como quem adia o voo.

Não quero ir ao sabor do vento,
adquiro um astrolábio
e parto em busca dos outonos
do mundo.
Não é tempo de morrer.
Protege minha fuga.

Solange Firmino


* Em meados de junho, os raios do sol entram atrás da porta do meu quarto. Então sei que o inverno está próximo.


sábado, junho 11, 2022