sexta-feira, outubro 30, 2020

(Re)verso

 


Possuída de desordem,

escrevi os silêncios
que resgatei da memória.
Por um instante,
acreditei ser eterna.

Acordei fazendo versos.
Profanei metáforas.
Queria semear sílabas perfeitas.
Inesperadamente,
sangrei o inverossímil poema,
decepei minhas rimas preferidas.
Para desespero
dos sinos que dobravam.

Solange Firmino


*Foto: Eu em frente ao Templo de Dendur - Metropolitan Museum of Art - New York

segunda-feira, outubro 12, 2020

Dia da criança

 



Trago dentro de mim

ondas que se quebram
em um mar intranquilo.
Dispo-me,
semente e parto.
Lúcida,
como quem adia o voo.
Não quero ir ao sabor do vento,
adquiro um astrolábio
e parto em busca dos outonos
do mundo.
Não é tempo de morrer.
Protege minha fuga.

Solange Firmino 

terça-feira, outubro 06, 2020

Travessias

 


O tempo atravessa o mundo,
avança pelos detritos,
rasga o espaço e chora no ombro da noite
seu cansaço de insônia.

O tempo atravessa o mistério
das perguntas gastas
e o meu coração que bate fértil e materno.

O tempo atravessa a solidão humana,
tão indizível que nem cabe no verso.
Que é deserta e sem nome, insone e surda

O tempo
Em seu nascer-morrer sem fim nem começo,
atravessa o sol de outono
e o azul e frágil céu dos deuses.

Os deuses atravessam o tempo
e as fronteiras nuas das estrelas.

Ei-los, obscenos,
criando o Homem e o Universo.

Solange Firmino 


*Lua vista da minha janela em 02/10/2020