domingo, junho 04, 2006

O Amor move o mundo



“Amor - pois que é palavra essencial”, diz o poeta Carlos Drummond de Andrade no poema de abertura do livro “O amor natural”. Os poemas falam sobre o amor físico e sexual:

O corpo noutro corpo entrelaçado, / fundido, dissolvido, volta à origem / dos seres, que Platão viu completados: / é um, perfeito em dois; são dois em um.

Na época do lançamento, o livro em questão provocou discussão sobre os limites entre palavras eróticas e pornográficas. Vejamos aqui o termo erótico. O adjetivo erótico é derivado de Eros, o deus grego do Amor, e refere-se, no sentido amplo, a tudo o que se liga ao Amor.

Tão difícil quanto descobrir a origem do mundo e dos homens é definir as nuances do amor. Há muitos séculos, os filósofos tentaram explicar a criação do mundo. Para alguns, forças atuavam com os quatro elementos, terra, água, fogo e ar. Para os poetas, essa força era chamada de Eros, o Amor.

Antes de ser representado como deus do Olimpo, Eros esteve presente nos mitos que contavam as primeiras criações do mundo e dos deuses, e permitiu a aproximação dos seres. Conta um mito que o Caos, o Érebo e a Noite procriaram juntos e deram origem a tudo o que compõe o Universo, inspirados pela energia cósmica de Eros.

O filósofo Platão chamou Eros de “daimon”, uma espécie de ser espiritual que habitava entre os deuses e os homens. Na obra “O Banquete”, Platão conta sobre a união de Poros, o deus dos recursos, e Pênia, a carência, na festa de nascimento de Afrodite, a deusa da Beleza e do Amor. Desse encontro nasceu Eros, carente como a mãe, sempre em busca de algo que o satisfaça, mas com recursos para alcançar o que deseja, como o pai. O amor, quando sente-se carente, busca conquistar o outro para preencher seu vazio.

(...)

Solange Firmino

Leia o texto integral na coluna Mito em Contexto, no portal Blocos online.


sábado, junho 03, 2006

O amor está sempre no ar


Comemos bastante chocolate em abril ao relembrarmos o amor de Cristo. Ao mesmo tempo, já preparavam as prateleiras para os presentes das mamães. Depois de comemorarmos os amores cristão e materno, ainda é tempo de mais amor, com a chegada do dia dos namorados em junho e mais um feriado cristão no dia quinze.
No dia seguinte às comemorações dos pombinhos é estréia da seleção brasileira na Copa, e o melhor presente para os namorados pode ser uma camisa nas cores verde e amarela. Ou branca e azul.
Em outros países, o dia dos namorados é comemorado no dia 14 de fevereiro. Na antiga Roma, esse dia era dedicado a Juno, deusa que abençoava os casamentos. São Valentim também morreu nessa data. Ele contrariou a proibição do imperador Cláudio II, que preferia os solteiros nas guerras, e realizou casamentos secretamente. Tornou-se patrono dos namorados. Quem não tem namorado ainda pode fazer suas preces a Santo Antônio, que tem sua data festiva no dia 13 de junho.O amor patriótico está colorindo as ruas de verde e amarelo querendo nossa torcida. Seria de mau gosto falar mal da alegria que contagia o povo nessa época e querer que falemos de outros assuntos. Sou professora da rede estadual, em greve novamente esse ano e meu pai está internado em um hospital da rede pública. Falar da educação e da saúde no país realmente não está na pauta de junho, mas estará depois da copa, quando lembrarmos que é ano eleitoral.
Mesmo que estejamos tristes com a corrupção dos políticos e com todas as tragédias, como os dias de terror que o estado de São Paulo viveu, talvez possamos esquecer as tristezas e lembrarmos somente das comemorações ao torcermos pelos gols. Devemos esquecer também que a seleção que vai jogar na copa não é toda composta de brasileiros. Não somos sempre enganados? Não vivemos fazendo de conta que está tudo bem?
Os funcionários públicos estamos alegres porque teremos ponto facultativo nos dias de jogo do Brasil. Afinal, é tudo o que ganharemos com a Copa, a não ser que orgulho pelos campeões milionários do futebol encha a barriga de alguém.
Mesmo se o Brasil perder a copa, devemos permanecer com muito amor até as eleições, afinal, a pátria amada, mãe gentil, que mais parece um filho levado, precisando de palmadas mais que colo, também precisa de amor e de uma boa educação.
Solange Firmino

(Texto publicado na Coluna Orkultural n° 19)