terça-feira, outubro 06, 2020

Travessias

 


O tempo atravessa o mundo,
avança pelos detritos,
rasga o espaço e chora no ombro da noite
seu cansaço de insônia.

O tempo atravessa o mistério
das perguntas gastas
e o meu coração que bate fértil e materno.

O tempo atravessa a solidão humana,
tão indizível que nem cabe no verso.
Que é deserta e sem nome, insone e surda

O tempo
Em seu nascer-morrer sem fim nem começo,
atravessa o sol de outono
e o azul e frágil céu dos deuses.

Os deuses atravessam o tempo
e as fronteiras nuas das estrelas.

Ei-los, obscenos,
criando o Homem e o Universo.

Solange Firmino 


*Lua vista da minha janela em 02/10/2020

Um comentário:

Graça Pires disse...

Um poema cheio de lucidez sobre o mundo por onde o tempo passa tão rápido que estonteia.
"O tempo atravessa a solidão humana,
tão indizível que nem cabe no verso.
Que é deserta e sem nome, insone e surda". Magnífico!
Cuida-te bem minha Amiga Solange.
Um beijo.