terça-feira, maio 03, 2022

Sobre as janelas da tarde [Para Manoel de Barros]



A noite não me diminui


mas eu também ando cheia de vazios

e com os ombros tombados


nós estamos à própria sorte

e nem sabemos o que fazer

para virar poesia!


soldados, mulheres e crianças

alguns ainda rezam

professam esperanças


queria mesmo ver um incêndio de flores

na alma de um bicho

afundar um rio com os pés

escutar a cor dos peixes

perceber como é a grandeza de um som azul

ver nascer a palavra na boca de uma criança


ah! e saber da solidão dos caracóis

e conhecer pelo menos um pouco sobre os rios

os fados morrem todos os dias

nas flores amarelas

e nas outras também



Solange Firmino




*** No livro “Quando a dor acabar”




Imagem: Bonina do meu jardim.



4 comentários:

Graça Pires disse...

Andar cheia de vazios, entregue à própria sorte. Só mesmo os poetas para professar esperanças com a poesia e saber olhar as flores amarelas como um incêndio na paisagem...
Belíssimo, como são todos os poemas deste livro, minha querida Solange.
Continua a cuidar-te bem.
Um beijo.

A Paixão da Isa disse...

desejando um lindo e feliz fim de semana com muita saude bjs

Graça Pires disse...

"nós estamos à própria sorte
e nem sabemos o que fazer
para virar poesia!" Porque andamos cheios de vazios e as flores amarelas assombram toda a paisagem...
Belíssimo este teu poema dedicado ao Poeta Manoel de Barros.
Continua a cuidar-te, minha querida Amiga.
Um beijo.

Jaime Portela disse...

Já não a visitava há séculos...
Gostei muito deste poema, é magnífico.
Continuação de boa semana, amiga Solange.
Beijo.