domingo, janeiro 31, 2010

Nenhum a menos


Em uma escola rural chinesa, uma menina de treze anos substitui o professor licenciado. A situação da escola é precária por falta de investimento e a relação entre aluno e professor na “escola-casa” acontece em tempo integral, pois eles dormem na escola. Wei, a menina, tem que evitar a evasão escolar, um grave problema no país. Quando um aluno deixa a escola, a menina-professora faz de tudo para trazê-lo de volta.

Wei é despreparada e não tem controle sobre a aula e o comportamento dos alunos. Seu interesse é cumprir o serviço e garantir o pagamento, por isso as aulas são horríveis. A relação entre eles sofre transformações quando se interessam em resolver o problema da ausência do aluno. Querendo conseguir dinheiro para a viagem de Wei à cidade, o grupo faz cálculos das horas trabalhadas em uma olaria. As aulas se tornam significativas. Assim conta o filme “Nenhum a menos”, do chinês Zhang Yimou.

Não precisamos analisar o cinema oriental. Não precisamos usar apenas um giz por dia, como acontece na escola do filme, e ninguém passa a noite na escola, embora muitos responsáveis demorem a buscar algumas crianças menores. Mas podemos refletir sobre algumas questões que o filme aborda, como o papel do educador nas instituições de ensino e a influência que a questão social tem na Educação.

Sabemos que o conhecimento só adquire significado se vinculado à realidade. Estudamos as teorias da educação construídas ao longo de décadas e concluímos que os conteúdos assumem diferentes orientações dependendo da época. A organização do trabalho escolar ainda mantém um processo de ensino centrado na transmissão-assimilação, o que leva o professor à preocupação em apenas passar o “conteúdo” e o aluno ao cumprimento de tarefas. O conhecimento transmitido é totalmente desvinculado dos problemas impostos pela prática social.

No filme, os alunos só mudam de comportamento quando são desafiados a resolver uma ação prática, um problema real. Esse é um dos elementos de uma educação transformadora e muito sonhada. Por isso há anos existem também as teorias que dão ênfase à (re)descoberta do conhecimento a partir da atividade do aluno.

A educação transformadora cria vínculos entre aluno e professor. É humanizadora, mas não tem receita pronta. Só cuidava bem daquela escola quem via nela sua própria casa, como é o exemplo da aluna que ficou triste com os gizes desperdiçados durante uma discussão. A professora se adaptou e deu valor à escola depois que passou a conviver. Que tipo de vínculo temos com a escola e o alunos? Os alunos gostam da escola como sua própria casa? Será que moveríamos céus e terras para trazê-los de volta?

O que mais importa nessa reflexão é perceber a importância do diálogo professor-aluno para o sucesso no processo ensino-aprendizagem e colocá-lo em prática. Como são as nossas relações na dinâmica da sala de aula? Os responsáveis pelos alunos não valorizam a escola os alunos e responsáveis do filme, mas o que temos feito para que isso mude? Quantos a menos nós temos durante um ano letivo?

Sonhamos com a educação de “nenhum a menos” porque ela aborda a Cidadania e a Ética, temas transversais que devem ser incorporados em todo o trabalho educativo e nos encaminham à construção de uma sociedade mais fraterna justa e democrática. Mas o que temos feito para ela? O que você, educador, fará em 2010?

Solange Firmino


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