segunda-feira, janeiro 23, 2006

Para onde você olha?

Para onde você olha?

No penúltimo texto da coluna Orkultural, falei sobre aproveitar o tempo (Carpe diem) e harmonizar Cronos e Kairos - o tempo do relógio e o tempo vivido.
No último texto, abordei a idéia de fim ou começo e nossa posição sem tempo definido no calendário.

Grandes pensadores, em várias áreas do conhecimento e em diferentes épocas tentaram entender o tempo. Ontem, hoje, amanhã, presente, passado e futuro sempre foram questões abordadas em seus aspectos cronológicos, existenciais, reais ou imaginários.

Como conservar o tempo? Que tempo é real e concreto? O tempo que passou ficou guardado em algum lugar? É possível viajar no tempo? Não sei. Mas muito se fala em aproveitar o dia que logicamente parece ser mais “palpável”, o presente. Aproveitar somente o dia de hoje pode parecer simples, mas o presente está entre o passado e o futuro, duas faces – uma que nós conhecemos, porque foi vivida e outra que não conhecemos, com todas as suas possibilidades.

Passado e futuro são duas fases no ritmo de nossas vidas, assim como tantos outros símbolos que representam a dualidade: novo e velho, dentro e fora, bonito e feio, feminino e masculino, yin e yang, etc. A dualidade também está simbolizada nas faces de Janus, divindade romana de aparência bifronte, com uma face voltada para o passado e outra para o futuro.

Na Antigüidade, muitas cidades tinham fortificações com portas nas entradas. Janus era adorado como o Senhor dos Inícios e como protetor das Portas e Passagens. Ele era o porteiro celestial e suas faces representavam o término e o começo, o passado e o futuro. Era responsável, portanto, pela abertura das portas do ano que iniciava. E toda porta se volta para dois lados...

Na origem do nosso calendário há homenagens a diversos deuses romanos. O mês de março origina-se do culto a Marte, deus romano da guerra. Janeiro era consagrado a Janus que, por ter duas faces, podia olhar ao mesmo tempo os dois anos, aquele que terminara e aquele que estava começando.

Sabemos que o passado tem tradições, mas também tem perdas. O futuro tem possibilidades, mas os riscos são desconhecidos. O que Janus pode nos ensinar é como voltar a face para os dois lados.

Aproveitemos que ainda estamos em janeiro e olhemos para os dois lados. Que possamos aprender com a vivência do caminho já trilhado a compreender melhor o presente e, por conseqüência, caminhar de modo mais lúcido para o futuro.

Solange Firmino

*Figura: representação de Janus.

Publicado na coluna Orkultural n° 10, janeiro de 2006.


3 comentários:

Anônimo disse...

Espetacular este teu 'olhar' sobre tempo.
Muita coisa a pensar ... muita coisa a aprender ... muita coisa a rever ...

Parabéns , Sol!
Visão bastante ampla!


Beijos :-)

Anônimo disse...

Tém toda Razão,minha amiga.
Devemos estár voltado sim ,para os dois lados,
o passado nos mostra como moldar o presente, e melhorar o futuro. Parabéns.É de cerebros brilhante como o seu, que poderemos caminhar com maior segurança.
Parabéns. beijocas

Anônimo disse...

O que foi citado tem semelhanças com meditações astrais.. muito mesmo..um mundo atemporal.

Linguagens que misturam ótica, poesia, filosofia em diversos segmentos, o tempo interno parece ser regido pelo que precisamos de fato viver, alcançar e melhorar em nossa jornada. Aprecio seus textos, como sempre..muito bons!

abraços... Sol