Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que uma palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com sua flauta de couro. O grilo feridava o silencio. Os moradores do lugar se queixam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras pois que desestruturaram a linguagem. E não eu.
Manoel de Barros
Aqui estão os inícios dos textos da coluna "Mito em Contexto", escritos por mais de 6 anos para o site Blocos online. Também estão alguns poemas dos 7 livros escritos por mim. E também alguns ensaios, haicais e outros textos.
sexta-feira, março 25, 2005
Palavras - Manoel de Barros
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3 comentários:
Adorei o poema e vou usá-lo para iniciar um capítulo em meu trabalho de mestrado, porém preciso da fonte. você sabe em que livro está? Será que pode me mandar?
Muito obrigada, marina
Marina, não tenho como te deixar um recado, então deixo aqui, na esperança de que retorne:
BARROS, Manoel Ensaios Fotográficos- RJ: Record, 2000
Ahhh, Manoel de Barros e sua escrita tão única!
Amo a forma como ele utiliza as palavras e me deixa refletindo o significado das suas construções.
Gostei de conhecer esse pequeno trecho.
Um abraço!
Ps: quando conheço um blog novo tenho o hábito de visitar a primeira postagem, não sei explicar o motivo, mas acho interessante saber como o blog começou.
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