domingo, julho 11, 2021

Mergulho

 


Voam em bando as aves

em cima dos pulsos dos espantalhos

são como as aves sem remorso

que devoram eternamente

o fígado de Prometeu


as mesmas que tentam até hoje

roubar as luzes dos girassóis de Van Gogh


suas aparições são prenúncio de morte

quando descem ao mar com precisão

podemos ouvir algazarras selvagens

elas sobem com os bicos cheios de caça

arrastam as nuvens ásperas

dispersam os restos pela ventania

nas alturas do céu encoberto

e nada mais se ouve


Solange Firmino



No livro "Diante das marés", da Caravana Grupo Editorial.



FOTO: Presente do meu cunhado Servus. Girassol da cidade de Rodgau, Alemanha.

Um comentário:

Graça Pires disse...

Aves sem remorso que roubam a luz aos girassóis de Van Gogh e são prenúncios de morte. Algo inquietante, este poema. Mas muito belo, minha querida Solange.
Continua a cuidar-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo.