domingo, maio 07, 2006

Amor e instinto maternos

Escultura de Otto Moroder

Ser mãe é padecer no paraíso. A mulher só se realiza plenamente com a maternidade. O instinto materno existe em toda mulher, mesmo naquela que ainda não é mãe e nunca será. Esse é o mês em que mais ouvimos e lemos frases como essas.

Não conheço o paraíso, mas em quase três anos como mãe, sem contar os meses de gravidez, já padeci bastante e sei que ainda tenho muito pela frente.
Padecer é também continuar ouvindo e lendo frases feitas. Ser mãe é isso, ser mãe é aquilo, mãe tem que ser assim, mãe tem que ser assado, mãe não pode mais isso, não pode mais aquilo. Mas o que sempre incomodou foi o tal instinto materno.

Essa questão não reforça ainda mais a sociedade sexista em que vivemos? Pai não tem instinto? A mulher só se realiza plenamente com a maternidade? As mulheres que não correspondem a esse modelo tradicional de maternidade têm que ser punidas emocionalmente? Por que ser mãe é algo tão puro e nobre, se nem todas as mães são nobres?

Acredito na capacidade que todo ser humano tem de criar vínculos, de amar. E até de amar incondicionalmente alguém, principalmente um filho. Qualquer afeto precisa da convivência e da conquista diárias para crescer. E considero o amor materno um desses afetos. O amor que cresce em mim pelo meu filho começou com o aprendizado diário em ser mãe dele, não existia antes da concepção e tornou-se diferente e mais intenso desde a primeira vez em que o vi.
O amor materno é diferente como é diferente o amor em cada relação. Talvez o que chamam de instinto materno seja o instinto de preservação da espécie, que também está presente nos animais.

Ser mãe é uma experiência única porque a mulher sente o bebê mexendo na barriga e pode amamentar? Quem não amamenta não é mãe integral? Mãe adotiva não tem instinto materno? Mãe de bebê de proveta não é mãe?
Conheço mães adotivas que têm mais amor pelos seus filhos do que muitas mães naturais que não se comprometem nunca com a maternidade e que, em uma situação de escolha, sempre optarão por si mesmas.

Se existe o instinto materno, para mim ele está no tipo de mãe de um relato da bíblia, em que o rei Salomão teve que dar um veredito sobre o caso de duas mulheres que disputavam uma criança. Salomão sugeriu que cortassem a criança ao meio e cada um ficaria com uma parte. A mãe verdadeira não deixou que cortassem a criança, preferindo que ficasse com a outra, desde que ficasse vivo.
Ser mãe é escolher o melhor para o filho, mesmo que tenha que perdê-lo.
A maternidade não é uma auréola. As mães não são santas, são seres humanos, com capacidades de amar, detestar e fazer escolhas, mesmo que não sejam as ideais.

Solange Firmino

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