sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Árvore fantasma

 ATENÇÃO: HÁ UMA ATUALIZAÇÃO PARA ESSA POSTAGEM NO LINK A SEGUIR:

 

ÁRVORE CORTADA.


A árvore vã

segura o abandono

da estação

 

ela nunca escolhe

mas não arreda pé

de sua substância

ferida na seiva

 

desmancha-se

na sua profundidade

esperando atrair

os pássaros dementes

perdidos de seus ventos

 

Solange Firmino



Imagem: Por mim, hoje na Rua Silveira Martins, Catete – RJ.


quinta-feira, fevereiro 17, 2022

Lançamento do livro "Quando a dor acabar"

 


Chegaram os livros que deveriam ter chegado no meu aniversário. Meus amigos e familiares já podem adquirir.

O livro tem a introdução do amigo Fábio Pessanha. Poeta, doutor em Teoria Literária e mestre em Poética.

Se quiserem ler o que ele achou do livro, eis aqui:

Solange Firmino escreveu um livro que festeja o tempo na tensão entre esperança e desolação, fluidez e permanência.

Em Quando a dor acabar acontece a apropriação da ambiguidade na necessária constatação pelo imaterial.

Muitas são as questões que seu trabalho levanta, mas talvez a espinha dorsal da presente trama imagética seja a solidão engasgada na garganta poemática da poeta, dando aos versos a longitude imprecisa que impede qualquer alusão à absoluta estabilidade.

É uma solidão atravessada por muitas dimensões, e o permanente está no que muda, assim como a mudança só acontece porque perdura, como aponta o verso “sou permanente / mas estou de passagem”. Há aqui o rearranjo de alguns lugares que seriam comuns se não passassem pela leitura da autora: “o poema vai morrer em frases comuns / como as gotas que compõem as chuvas / e as geografias dos desertos”.

Engana-se quem se restringe a perceber nesses versos a trivialidade do fim, pois a questão que se levanta é a da unidade (o “tudo é um” de Heráclito). Ainda na trilha dos rearranjos, lemos “assim, desisto do texto original” e é possível dizer que não há abandono pela desistência, mas a assunção da impossibilidade de se firmar um lugar, pois o texto original é este que a cada instante se oculta no que tentamos enxergar.

Este livro é um exercício diário de existência, da percepção do fim como princípio, da morte como tensão (não restrita à extinção material), bem como nos diz o poema Sépia: “faz um silêncio tão grande / quanto as mãos num copo vazio”. Fábio Pessanha

 


*Quem quiser adquirir, deixe recado nos comentários.

terça-feira, fevereiro 15, 2022

Rascunho na insônia

 


Quero compor um canto de ninar

de tom sublime.

A canção mais terna,

que transcende o tempo e vai além do espaço,

pulsa em mim,

mas não consigo fazer música no descompasso de

desafinados amores,

além do mais,

desconheço notas e metáforas musicais.

 

Então tento compor uma narrativa. Navego sobre as

formas poéticas. Mas indecisa entre prosa ou poesia, pois minha prosa sempre foi presa, espero as palavras certas para reinventar versos sem rigor de métrica e rima. Minha atual metalinguagem só permite um refrão minimalista:

 

Vida.

Vida.

Vida.

 

Faço de dia um poema,

qual Penélope tecedeira,

para desfazer à noite

e refazer na insônia.

 

Desfio os novelos de Ariadne

com uma navalha que dilacera meus versos.

Rabisco no papiro tudo aquilo que o Aedo me sopra.

 

De vocabulário parco,

um poema que poeta algum escreveria revela-se para mim.

 

Não saberia recitar meus poemas,

nunca tive paciência para escandir versos,

por isso faço poucos haicais e nenhum soneto.

 

Sempre convido uma musa

para que venha velar meu sono

e trazer o ritmo,

iluminar meus dias,

ofertar os tons que me inspiram a Poesia.

 

Mexo na caixa de relíquias e ajeito conchas,

pedras, traços, cicatrizes,

retalhos desconexos,

anseios e conquistas que sustentam meu universo.

Tantas metas perdidas...

E alguns enigmas além das palavras

que me devoram como monstros.

 

Conheço a ordem das palavras nas frases

e decifro o enigma da Esfinge,

mas não aguento as Aves de Prometeu.

Fujo do Estige enquanto o trovador compõe

uma sátira em meu nome.

 

Harpias já começam a me rodear.

Mas meu ventre ainda é fértil,

não vou ceder agora.

 

Disfarço um olhar,

como se evitasse olhar a Medusa de frente.

Mas me Narciso:

miro-me e vejo máscaras no espelho.

 

Eu sou várias.

Ainda sobreviverei.

 

Já é dia, traços de luz enquadrinham o amanhecer.

Restarão estas palavras no papel.

Semente ou ovo, tudo (re)começa.

Amanhã deleto tudo e reescrevo.

Estou com sono finalmente.

 

Solange Firmino


 

No livro “Fragmentos da insônia”


📸 Victor Nizovtsev

domingo, fevereiro 13, 2022

Casulo

 


Abrem-se para o mundo
na rara manhã
ainda intactas
asas em suspenso

((vão devagar))

na quietude ausente
das nuvens que passam
um anjo nasce

Solange Firmino


No livro “Quando a dor acabar”.

Imagem: Anjo de Victor Nizovtsev.

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Pulsante

 


Nunca me preparo para viver mais um dia
digo sim a tudo o que acontece
com assombrosa certeza
meus silêncios comungam
com a estranheza desse tempo
meus sonhos tensos amanhecem do avesso
alheios à luz da aurora

Solange Firmino

 
No livro “Quando a dor acabar”.


*** Imagem: Rosa do meu jardim.

segunda-feira, fevereiro 07, 2022

Ancestral

 


Ancestral

Somos antiquados
aprendemos a tecer no tempo
como a moldura de um retrato apagado
por medo de fenecer


Solange Firmino


No livro “Quando a dor acabar”, em pré-venda na Caravana Grupo Editorial.


Imagem: Eu em 05/02/2022 - Comemorando meus 50 anos. 

sábado, fevereiro 05, 2022

50 anos

 

Atraem-me os astros em mutação constante. Como um tempo a procurar a densidade da luz e das trevas onde se extiguem os dias. A vibrar na estreita linha da existência, leve como mais leve nuvem. Sem tocar a idade do rosto que me pertence.
Um universo quase encenado na dimensão da vida.
Talvez uma uma chama desarmante sobre os lábios me deixe ver o princípio de quem sou e a cintilação da luz implacável presa no equinócio de outono a entoar, em pluviosa melodia, em aflição cósmica, a nítida possibilidade da madrugada em que nasci. A agitação da terra e do firmamento pode ser a denúncia ou o aviso de que o perfume das flores me cegará no instante de morrer.

Graça Pires, Em: Antígona passou por aqui. Pág. 30.

quinta-feira, fevereiro 03, 2022

Sépia

 


Mais um poema do livro novo no site da Graça Pires, minha amiga portuguesa que escreveu a apresentação do livro “Diante das marés”. O link para o site dela está aqui. Vale a pena a visita: Ortografia do Olhar


Sépia
 
Nos traços do dia
a palavra fora ou dentro
é impermanente
aguçada como a incandescência da luz

faz um silêncio tão grande
quanto as mãos no copo vazio

ardem na tarde ocasional
as cinzas e seu sopro vistos
através da claridade
na brisa transparente
do rio que vai arranhar o mar

Solange Firmino


No livro “Quando a dor acabar”, em pré-venda na Caravana Grupo Editorial.

Imagem: Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro.




sexta-feira, janeiro 28, 2022

Linhagem

 


[Para Manoel e Vanda, meus pais]

Sou metade de cada um dos meus pais.
Ao acaso, mais um rosto na Terra.
Essa história não está nos livros.
Pronuncio a palavra no colo deles,
sempre serei menina.

A idade já chegou para nós três,
temos rugas.
Entretanto, emito um verbo que nos eterniza:
arvorejar.
Criaremos galhos entre as árvores do antigo quintal;
iremos dançando uma cantiga de roda
de volta à era dos fósseis,
de geração em geração.

Nossa herança permanecerá
sem precisar de sobrenome.


Solange Firmino


No livro "Quando dor acabar", da Caravana Grupo Editorial.
Para adquiri-lo em pré-venda, acesse:

https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/quando-a-dor-acabar/

📸 Eu e meus pais, anos 70.

sábado, janeiro 22, 2022

Quando a dor acabar - Pré-lançamento

 


PRÉ-LANÇAMENTO

"Solange Firmino escreveu um livro que festeja o tempo na tensão entre esperança e desolação, fluidez e permanência. Em Quando a dor acabar, acontece a apropriação da ambiguidade na necessária constatação pelo imaterial. Muitas são as questões que seu trabalho levanta, mas talvez a espinha dorsal da presente trama imagética seja a solidão engasgada na garganta poemática da poeta, dando aos versos a longitude imprecisa que impede qualquer alusão à absoluta estabilidade. É uma solidão atravessada por muitas dimensões, e o permanente está no que muda, assim como a mudança só acontece porque perdura, como aponta o verso 'sou permanente / mas estou de passagem'. Há aqui o rearranjo de alguns lugares que seriam comuns se não passassem pela leitura da autora: 'o poema vai morrer em frases comuns / como as gotas que compõem as chuvas / e as geografias dos desertos'. Engana-se quem se restringe a perceber nesses versos a trivialidade do fim, pois a questão que se levanta é a da unidade (o 'tudo é um' de Heráclito). Ainda na trilha dos rearranjos, lemos 'assim, desisto do texto original' e é possível dizer que não há abandono pela desistência, mas a assunção da impossibilidade de se firmar um lugar, pois o texto original é este que a cada instante se oculta no que tentamos enxergar. Este livro é um exercício diário de existência, da percepção do fim como princípio, da morte como tensão (não restrita à extinção material), bem como nos diz o poema Sépia: 'faz um silêncio tão grande / quanto as mãos num copo vazio'."
 
Fábio Pessanha *

Fábio Pessanha é poeta, doutor em Teoria Literária e mestre em Poética, ambos pela UFRJ. Publicou ensaios sobre sua pesquisa a respeito do sentido poético das palavras, partindo principalmente das obras de Manoel de Barros, Paulo Leminski e Virgílio de Lemos. É autor também de A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos (Tempo Brasileiro, 2013) e coorganizador de Poética e Diálogo: Caminhos de Pensamento (Tempo Brasileiro, 2011). Assina a coluna “palavra: alucinógeno”, na Revista Vício Velho, onde desenvolve um trabalho de escrita performática, com a incorporação de poemas. Portanto, segue a orientação de Manoel de Barros, quando este dizia que os poemas não devem ser compreendidos, mas incorporados. Também tem poemas publicados em diversas revistas eletrônicas.




terça-feira, janeiro 18, 2022

Réquiem para Van Gogh



Pulsava a vida no céu do artista
que pintava o mundo
com a brutalidade das cores quentes
perdido em sua ausência peculiar

pincelava campos verdes e amarelos
ventos carregados de fuligens
com uma pitada de corvos no céu

no poente
pássaros levavam solidões e asas
para os confins

pesavam nas pálpebras dos autorretratos
a idade e o fado

Solange Firmino



No livro "Diante das marés", da Caravana Grupo Editorial.



Foto por mim, no Aterro do Flamengo - Rio de Janeiro, em dezembro de 2021.

sábado, janeiro 08, 2022

Conjugação do tempo

 


O futuro é o que será
sempre a um passo de acontecer
nascido na véspera
um suspiro que vai chegar

o futuro é um presente que precisa ser outro
para ser ele mesmo
o futuro se desconhece
ao mesmo tempo em que se desgasta
quando muito se espera

no último suspiro
quando nada mais houver para ser escrito
dito ou vivido
o futuro vira pretérito

mas antes
move o presente
e nos faz ser quem somos agora

futuro
destino de ser passado

Solange Firmino


*No livro Diante das marés.

quinta-feira, dezembro 30, 2021

Resenha do meu livro

 

Queridos, meu amigo português Luís Palma Gomes escreveu uma resenha do meu livro que foi um dos premiados no concurso da Biblioteca Pública do Paraná, na categoria infantil:

https://amaitepoesia.blogspot.com/2021/12/luis-palma-gomes-resenha-haicais-no.html

Quem ainda não conferiu o livro, é só acessar o link abaixo e visualizar ou fazer o download gratuitamente:




Um ótimo 2022 para todos. 
Muita bênção, saúde e inspiração.
 🎉📚

domingo, dezembro 26, 2021

Haicai Beija-flor

 


os raios do sol
nas asas do beija-flor
começam os dias

Solange Firmino

📸 Retirado do meu livro lindo e colorido, um dos premiados no Prêmio Biblioteca Pública do Paraná 2021, na categoria Literatura Infantil.

Vocês podem fazer o download gratuitamente no link abaixo: 

https://www.bpp.pr.gov.br/sites/biblioteca/arquivos_restritos/files/documento/2021-12/haicais_no_jardim.pdf

terça-feira, dezembro 21, 2021

Início do verão - Haicai

 



manhã de verão
as cores vão se ajeitando
desabrocha a rosa

Solange Firmino


📸 Retirado do meu livro lindo e colorido, um dos premiados no Prêmio Biblioteca Pública do Paraná 2021, na categoria Literatura Infantil.

Vocês podem fazer o download gratuitamente no link:




🌅 O verão 2021-2022 no Brasil começou hoje, 21 de dezembro de
2021, às 12h59.

terça-feira, dezembro 14, 2021

Prêmio Haicais

 


Amigos e leitores, fui uma das premiadas no Prêmio Biblioteca Pública
do Paraná 2021, na categoria Literatura Infantil. 

O livro está lindo e colorido.  

Vocês podem fazer o download gratuitamente aqui:

Haicais no jardim - Um novo sopro no ar

domingo, novembro 21, 2021

Apresentação do meu livro "Diante das marés" pela poeta Graça Pires

 


Deixo-me surpreender pela linguagem da memória, dos ritmos da vida que impiedosamente nos arrastam, do tempo que vivemos e que vamos construindo. Da eternidade só sabiam a palavra, diz-nos Solange sobre os que se ajoelham embevecidos diante das marés. Ao longo do texto vão sendo recuperados instantes suspensos, capazes de fazer durar o que é precário e resgatá-lo do curso continuado do tempo. Inacabados que somos, nascemos inúmeras vezes dentro de nós. Podemos olhar tudo como se fosse a primeira vez. É então que surge a palavra. Impermanente. Cúmplice. Unha afiada. Punhal e seda. Abismo e vertigem. Escarpa na violência das marés. A autora sabe os caminhos da água, mas espera que a sede lhe rebente na boca, até descobrir, na terra, o nome que é seu e deixar que as águas lhe cheguem aos olhos para que, límpidos, possam ver as estrelas e a sua eternidade. Também de inquietude se faz esta poesia, apresentando contornos que se movem entre a luz e a sombra, entre o afirmado e o não dito com palavras indissociáveis, umas completando as outras, ou mutuamente se entrelaçando."

Graça Pires


Diante das marés/Solange Firmino. Belo Horizonte: Caravana, 2021.


Para comprar o livro, siga esse link, ou entre em contato comigo.


*Minha amiga, a poeta Graça Pires está fazendo aniversário hoje, 22/11. Visitem e sigam seu blog.

quarta-feira, novembro 03, 2021

Das quedas



Se acaso eu cair
que seja de um tsuru
de anatomia leve
e que esteja jovem
(porque é um pesar ser eterno)
não dá para sofrer melhor
mesmo tendo sete vidas

você não entende de línguas
eu não entendo dos movimentos
das caravelas no mar
mas gostamos de pés descalços na areia

Solange Firmino



* Para a poeta Carla Andrade, em homenagem ao seu livro 
"Ando caindo cada vez mais leve", nas minhas mãos.