quarta-feira, julho 19, 2023

Tempo de recordações: sorvendo a vida em goles lentos

 


Em homenagem ao aniversário do amigo Wanderlino e aos nossos cafés.

Leiam em Amaité Poesia & Cia, a leitura que fiz de alguns poemas do livro "Café Pingado, de Wanderlino Teixeira Leite Netto".


FACA DE PONTA

Quando o tempo fecha o cerco e o viço esvoaça,
o ontem recrudesce em rebuliço.
Tece a trama de uma teia,
brota feito grama quando passa a chuva fina,
é cacho de uva em tempo de colheita,
água de mina assim constante.
Não fica na espreita,
não dispensa um só instante.
O ontem, quando o Tempo aperta o laço,
quando espalha tintas nos dorsos das telas,
é lâmina de aço,
estilete espetado entre as costelas.

Wanderlino Teixeira Leite Netto


Leia o texto completo nesse link: Amaité Poesia & Cia.

quinta-feira, julho 13, 2023

Litorânea

 

                                                               
Ela tem o destino dos ventos.
Gosta das ondas que acompanham
as espumas que morrem nas praias
onde nunca esteve.
O mesmo vento que sopra as velas até o cais.

Com um sorriso,
também recebe os barcos
na sua terra de origem;
entre montes, rios
e aquele oceano inteiro entre nós.

Solange Firmino


* Poema para a amiga Graça Pires
  
Imagem: Marina da Glória, Rio de Janeiro. 

quinta-feira, julho 06, 2023

Testemunho

 


Eis-me aqui
ponho a mesa como uma dádiva 
convoco familiares
conto sobre trilhas que tomei 
como meu corpo até hoje está machucado 
sobre as vezes nas quais me equilibrei
em noites insones

tudo foi cansaço no andor de banalidades
eu me aposso do instante em que respiro 
assim capturo o presente
pronuncio sílabas que me escapam 
no momento já passado

a esfinge ilhada na multidão do deserto 
não convida às charadas 
também quer descanso
na escuridão até a lua paira além da fronteira 
sem nada mostrar

Solange Firmino


* Em 6 de julho de 1907 nascia Frida Kahlo, na casa de seus pais, 
conhecida como La Casa Azul (A Casa Azul), em Coyoacán.

* Estas fotos eu fotografei na Casa Azul, agora um museu aberto à visitação.



segunda-feira, julho 03, 2023

A menina que aprendeu a matar centopeias e outros poemas



Leiam nesse link, em Amaité Poesia, a leitura que fiz de alguns poemas do livro "A menina que aprendeu a matar centopeias e outros poemas", da poeta portuguesa Virgínia do Carmo.

O link para o site: https://amaitepoesia.blogspot.com/2023/07/a-menina-que-aceitou-chuva-solange.html

***

A menina que aprendeu a matar centopeias
 
Não preciso que todos os dias sejam
mansos. O meu corpo não é de seda.
Acordo muitas vezes com pele de árvore
e já provei o sangue das tempestades.
Quase nunca sou brisa. Mais vezes sou
vento nascido dos trovões. Caminho descalça
na lama. Tenho braços de furacão. Não sou
frágil. Não sou do meu tamanho.
Eu sou a menina que cresceu. Que decorou
gritos de guerra. Que salta muros e cercas.
A menina que aprendeu e agora sabe
matar dragões e centopeias.



Virgínia do Carmo, Poética Edições, 2023.