segunda-feira, maio 31, 2021

Perda

 



 

Mergulhada no tempo

permaneço diminuta diante do verbo

pronunciado em anônimo

 

renuncio aos nomes das musas

qual sibilo de feiticeira medonha

enquanto giram os anéis de Saturno

e os girassóis de corolas cansadas

pendem suas hastes na tarde


Solange Firmino



* Foto: SullaMino_Photo



No livro "Diante das marés".

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quinta-feira, maio 27, 2021

Yin-yang

 



Reparo na inquietude do mundo que gira
no silêncio que assobia
no grito que uiva


metade de mim finge riso
outra metade sente dor
inteira sou memória

transbordo apressada
saudosa até do que desconheço

Solange Firmino



No livro "Diante das marés", Caravana Grupo Editorial.

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domingo, maio 23, 2021

Orgânico

 


O ventre do verso imaculado
na sílaba que falta
in(verso) reticente
concreto
conduzido pela disciplina
da inesperada poesia

metáfora


Solange Firmino


No livro "Diante das marés", Caravana Grupo Editorial.

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sexta-feira, maio 21, 2021

Escultura

Vênus apela
nua em pelo
estrela nua
fêmea sedenta
disfarçada
carne crua
pose arcaica
no entalhe
na postura
Antiguidade Clássica

Solange Firmino


(No livro “Diante das marés”)

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A escultura "Musa Impassível", de Brecheret, foi feita para o túmulo de Francisca Júlia, nos anos 1920. A escultura foi transferida para a Pinacoteca de São Paulo em 2006.

O poema 'Musa!', de Francisca Júlia da Silva, pode ser lido na internet.

Eu peguei a foto para ilustrar meu poema.

Foto: Eu na Pinacoteca em 2015.

segunda-feira, maio 17, 2021

Vestígios



Aconchego as palavras devagar
antes que fujam no inesgotável silêncio cadente
o poema surge no esboço
no rascunho cansado da memória

exibe cicatrizes no abismo possível
da implacável poesia
antevê os limites insones
do céu esculpido em nuvem
e se afoga no mais remoto cais

como argonauta que vaga a esmo
comete o delito de atravessar sem bússola
o grande mar que é a vida

Solange Firmino


No livro "Diante das marés"



No livro "Diante das marés", Caravana Grupo Editorial.

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sexta-feira, maio 14, 2021

Dádiva

 

A concisão do verso

rabisca com ternura

esconde-se repetida

na vida que permeia

a folha em branco

e silencia

unge o poema


Solange Firmino



No livro "Diante das marés".


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domingo, maio 09, 2021

A memória do mar-deserto 


Foi num tempo anterior a essa estação 
que o sertão se fez mar 
desordenou o que era feito para morrer 
os excluídos veneraram as ondas 
amaram as ressacas 
ajoelharam-se embevecidos diante das marés 
catando pela primeira vez as ostras 
agradeceram aos ventos 
antes que viesse mais uma catástrofe 
da eternidade só sabiam a palavra

Solange Firmino


No livro "Diante das marés", Caravana Grupo Editorial.

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sábado, maio 08, 2021

Manifesto sincero


No livro "Diante das marés".
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quarta-feira, maio 05, 2021

Presença

Leonid Afremov


Então fiquei assim: nua.
Não que eu tenha tirado a roupa, mas o escudo.
Tua voz espalhou pelo meu corpo naufragado o espanto.
Passiva e equilibrada, 
olhei-me de novo no espelho partido.
Estava oco. 
Sem imagem refletida. 
Nem a velha imagem cubista. Nada.

Naquela noite inventei um amor no meu sonho.
Um amor de frases que li e ouvi, mas nada era meu.
Então abri a concha para ouvir tua voz, 
que vinha de um tempo longe,
de um lugar que não existe, 
entre ferrugem e musgo.

Tua voz trouxe uma canção que falava de amor.
Entre porto e naufrágio, tu procuravas o norte,
embalado pelo (en)canto da tua sereia.
E tu eras também sereia nos meus ouvidos.
Oferecias um ritmo sincero, que entregava o CÉU
e a esperança num canto de amor.

A melodia me tomou para um horizonte que chorava
a solidão nas frestas.
Queria também te resgatar,
mas o manto das estrelas me feria como punhal.
Não me joguei no teu abismo,
mas passeei no teu sonho.
E acordei comovida.

Solange Firmino


* Para a Céu, do blogue Ausente do Céu.

Ser


 "sou mar, inundo-me, abissal
mergulho sem fôlego
no assombro do que não sou"

*Trecho do poema 'Ser', no livro "Diante das marés".

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domingo, maio 02, 2021

Sinestesia



Dissimulo até ser despida pelo desassombro
adio o destino que me sufoca para ontem
tateio a lua a iluminar meu canto
a chuva que toca o chão
a solidão do poente

ofereço minha língua antes do beijo
entre as névoas que alagam meus passos
desencontro o fundo do espelho
sinto o vento que me acaricia
no compasso da borboleta

percebo o toque que cura o enfermo
ouço o silêncio que é a síntese
do perfume da noite
mar lambendo a areia
céu que embala a asa


Solange Firmino


* No livro Diante das marés.
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