Deixo-me
surpreender pela linguagem da memória, dos ritmos da vida que impiedosamente
nos arrastam, do tempo que vivemos e que vamos construindo. Da eternidade só
sabiam a palavra, diz-nos Solange sobre os que se ajoelham embevecidos diante
das marés. Ao longo do texto vão sendo recuperados instantes suspensos, capazes
de fazer durar o que é precário e resgatá-lo do curso continuado do tempo.
Inacabados que somos, nascemos inúmeras vezes dentro de nós. Podemos olhar tudo
como se fosse a primeira vez. É então que surge a palavra. Impermanente.
Cúmplice. Unha afiada. Punhal e seda. Abismo e vertigem. Escarpa na violência
das marés. A autora sabe os caminhos da água, mas espera que a sede lhe rebente
na boca, até descobrir, na terra, o nome que é seu e deixar que as águas lhe
cheguem aos olhos para que, límpidos, possam ver as estrelas e a sua
eternidade. Também de inquietude se faz esta poesia, apresentando contornos que
se movem entre a luz e a sombra, entre o afirmado e o não dito com palavras
indissociáveis, umas completando as outras, ou mutuamente se entrelaçando."
Diante das marés/Solange Firmino. Belo Horizonte: Caravana, 2021.
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*Minha amiga, a poeta Graça Pires está fazendo aniversário hoje, 22/11. Visitem e sigam seu blog.