PRÉ-LANÇAMENTO
"Solange Firmino escreveu um livro que festeja o tempo na tensão entre esperança e desolação, fluidez e permanência. Em Quando a dor acabar, acontece a apropriação da ambiguidade na necessária constatação pelo imaterial. Muitas são as questões que seu trabalho levanta, mas talvez a espinha dorsal da presente trama imagética seja a solidão engasgada na garganta poemática da poeta, dando aos versos a longitude imprecisa que impede qualquer alusão à absoluta estabilidade. É uma solidão atravessada por muitas dimensões, e o permanente está no que muda, assim como a mudança só acontece porque perdura, como aponta o verso 'sou permanente / mas estou de passagem'. Há aqui o rearranjo de alguns lugares que seriam comuns se não passassem pela leitura da autora: 'o poema vai morrer em frases comuns / como as gotas que compõem as chuvas / e as geografias dos desertos'. Engana-se quem se restringe a perceber nesses versos a trivialidade do fim, pois a questão que se levanta é a da unidade (o 'tudo é um' de Heráclito). Ainda na trilha dos rearranjos, lemos 'assim, desisto do texto original' e é possível dizer que não há abandono pela desistência, mas a assunção da impossibilidade de se firmar um lugar, pois o texto original é este que a cada instante se oculta no que tentamos enxergar. Este livro é um exercício diário de existência, da percepção do fim como princípio, da morte como tensão (não restrita à extinção material), bem como nos diz o poema Sépia: 'faz um silêncio tão grande / quanto as mãos num copo vazio'."
Fábio Pessanha *
* Fábio Pessanha é poeta, doutor em Teoria Literária e mestre em Poética, ambos pela UFRJ. Publicou ensaios sobre sua pesquisa a respeito do sentido poético das palavras, partindo principalmente das obras de Manoel de Barros, Paulo Leminski e Virgílio de Lemos. É autor também de A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos (Tempo Brasileiro, 2013) e coorganizador de Poética e Diálogo: Caminhos de Pensamento (Tempo Brasileiro, 2011). Assina a coluna “palavra: alucinógeno”, na Revista Vício Velho, onde desenvolve um trabalho de escrita performática, com a incorporação de poemas. Portanto, segue a orientação de Manoel de Barros, quando este dizia que os poemas não devem ser compreendidos, mas incorporados. Também tem poemas publicados em diversas revistas eletrônicas.
Um comentário:
Parabéns, minha Amiga Solange por mais este teu livro, que fará um bom percurso junto de todos os que amam as palavras que escreves.
Continua a cuidar-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo.
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