Livro da Graça na minha janela |
O livro da Graça Pires chegou num dia nublado e meio chuvoso. Nesse pedaço do meu confinamento, às vezes dá para ver o céu azul:
Vista minha janela |
Moro no segundo andar, mas a vista que tenho é dos fundos da parede do Palacete Cornélio, erguido em 1862, e que foi muito maltratado no decorrer das décadas. Está cedido atualmente para uma faculdade de medicina que o deixou em estado de abandono.
Interior Palacete Cornélio, anos atrás |
Palacete, anos 50 |
O meu prédio, de 1934, é aquele duplo ali atrás, o Palacete é esse da frente. Ao lado, que não aparece na foto, fica o Palacete São Joaquim, onde o Papa Francisco fez a Oração do Ângelus na sacada, há poucos anos. Da minha janela até hoje avisto aquela palmeira...
No edifício em frente, do outro lado da rua, morou o escritor brasileiro Mario de Andrade. Nesse bairro onde moro e nessas ruas têm muita história.
Habitava aquele sítio por engano.
Não era ali o lugar que procurara para viver.
O que o fascinava era o deserto:
a boca viciada pela sede,
o vento ardido no olhar,
a seiva dos cactos infiltrados nas veias.
E, à distância da mão, a linha curva
do poente a incendiar-se de estrelas.
Em momentos da mais magoada solidão,
saem de seus olhos tempestades de areia.
Como se fosse um pranto.
Graça Pires
(Em: A solidão é como o vento)
2 comentários:
É uma pena que, em o Brasil, trabalhos como estes não sejam valorizados, em o Brasil se tem visualização na faca da violência ou no clickbait fake da intolerância.
Bom dia minha querida Amiga Solange. Que bom teres gostado do livro. Achei curioso o poema que escolheste como se fosse teu, como se combinasse com a vista da tua janela. Gostei de ver as fotografias e de saber que moras num lugar com História…
Obrigada por divulgares aqui o livro desta forma carinhosa.
Continua a proteger-te, minha Amiga.
Um grande beijo.
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