Nem sempre um movimento
nos leva a algum lugar
como a Terra
que não ousa navegar
Embaixo das árvoresas ricas sombras convidampausa matinalSolange Firmino
as luas e os sóis
e o milagre dos dias que irrompe.
Chove em mim e o
ventre do abismo
acolhe o trajeto dos pássaros.
Vejo frutas prematuras
na paisagem que criou
este poema.
Logo será tempo de morrer
e entoar um cântico
de renovação
ao fascínio incerto
do solstício.
Solange Firmino
A luz que tomava seu corpo começou suave e delicada. Relaxou totalmente no acalanto daqueles raios. Sentia-se ungida para o que estava por vir. Por algum tempo, buscou no silêncio as notas do seu canto. Sua própria vida seria a composição perfeita: letras, palavras, imagens, tudo agora parecia ter sentido. Das suas memórias foi nascendo a melodia que a embalaria nos últimos instantes.
(trecho)
Solange Firmino
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Ilustração: Gertrude Abercrombie
Uma ligeira lucidez se abre
nos lampejos das manhãs tecidas
em meio ao estardalhaço
somos inacabados
necessitamos do outro
que nos ancore e ampare
que nos passe a limpo
que nos ajude a limpar
a nódoa da vida
Solange Firmino
Foto: Marco Antônio
Guardo ainda as conchas que acumulei da maré baixa
o mundo dos peixes mutilados
não sabe das tocaias dos homens ao anoitecer
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